Já há mais mulheres empreendendo do que homens. Essa foi uma das conclusões da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2016, realizada pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP). Quase metade dessas novas empreendedoras (com negócios de até 3,5 anos) está concentrada em atividades de serviços domésticos, cabelereiros e beleza, comércio de roupas e cosméticos e serviços de bufê e comida preparada. Mas, aos poucos, elas estão apostando mais em áreas que costumam ser dominadas por homens – e em Academic Working Capital não é diferente.
A porcentagem de mulheres participantes do programa dobrou na edição de 2017 em relação aos outros anos: enquanto em 2015 e 2016 a participação feminina em AWC foi em torno de 10%, neste ano subiu para 20%. Para Sílvia Takey, sócia da startup DEV Tecnologia e membro do Conselho Consultivo de AWC, esse aumento é reflexo de uma tendência que ela vem observando no mundo das startups. “É interessante notar que houve esse aumento sem ter nenhuma ação específica para chamar as mulheres, aconteceu naturalmente”, comenta.
Danielle Cohen, recém-formada em Engenharia de Produção pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), é uma das participantes de AWC 2017 e conta que sempre teve vontade de empreender. Sua primeira experiência foi no 4º semestre da graduação, quando começou a participar do BEPiD – um programa do Laboratório de Engenharia de Software da PUC-Rio em colaboração com a Apple voltado a desenvolvimento de aplicativos e empreendedorismo. Como projeto final do programa, ela criou o Nobi, um sistema para gestão de condomínios residenciais que virou sua primeira startup.
A partir de algumas entrevistas realizadas para criar o Nobi, Danielle percebeu outra oportunidade de negócio: reduzir as filas da recepção de prédios comerciais. Junto com sua colega de curso Luisa Paiva, ela está desenvolvendo em AWC um sistema de atendimento automatizado por meio de totens, o Totmi. O número de mulheres participando do programa a surpreendeu. “Achei que ia ter menos mulheres. Umas são mais técnicas, outras menos, mas todas elas querem botar a mão na massa e aprender”, diz. O que ela considera mais importante em AWC é a colaboração e os feedbacks compartilhados entre os grupos.
Desafios a superar
Sílvia explica que há preconceitos e questões a serem superados para ampliar a quantidade de empreendedoras em tecnologia. Além da tecnologia ainda ser vista por muitos como uma área masculina, há mulheres que têm receio de se dedicar à startup e não ter tempo para a família. “Hoje as funções estão mais divididas entre homens e mulheres, então as mulheres estão arriscando mais”, afirma. Infelizmente, há ainda uma preferência de investidores por negócios liderados por homens. Sílvia menciona uma pesquisa publicada na Harvard Business Review que revela que até as perguntas feitas por investidores são diferentes para cada sexo – para as mulheres, são mais relacionadas ao risco do negócio; para os homens, ao potencial de valor.
“As mulheres se posicionarem e se colocarem de forma mais agressiva e convincente para o investidor pode ajudar a mudar isso. É um desafio maior, mas que está cada vez mais sendo superado com o nosso trabalho”, diz Sílvia. Danielle já sofreu alguns episódios de preconceito por ser uma mulher na área de tecnologia, mas não se deixou abalar. “As mulheres têm que mostrar que são boas tecnicamente, têm que mostrar que podem fazer tanto quanto os homens. Às vezes elas ficam acanhadas de falar na frente deles, mas elas têm que falar sim e mostrar todo o potencial que têm.”