Professor Robert Kaplan mostrou ao mundo a alegria da matemática

Professor Robert Kaplan mostrou ao mundo a alegria da matemática

O casal Robert e Ellen Kaplan tinha um sonho: que as pessoas pudessem desfrutar da matemática. Professores da Universidade de Harvard e autores de livros sobre o Teorema de Pitágoras e sobre o Infinito, eles acreditavam que todos deveriam ter a chance de estudar a matemática da mesma forma que os matemáticos: como uma busca alegre e sem limites. Ambos dedicaram suas vidas e trabalharam com afinco para que as barreiras em relação à disciplina fossem derrubadas, assim como a crença de que a matemática é apenas para pessoas que nasceram com talentos matemáticos.

A partir desse sonho nasceu, em 1994, a abordagem The Math Circle, criada pelo casal. A técnica não requer instalações ou ferramentas caras, só é preciso que seja transmitida de uma mente entusiasmada para outra. E entusiasmo pelo ensino da matemática nunca faltou ao casal de professores. “A matemática é a música da mente. É a poesia que usamos para criar nossas estruturas mais profundas e belas. E também é a linguagem para compreender o universo na física, na biologia e em qualquer ciência. É a linguagem usada para escrever essas ciências”, afirmava Robert Kaplan. Aos 88 anos, no dia 11 de novembro, o professor Robert Kaplan faleceu nos EUA deixando um legado que certamente seguirá ecoando dentro e fora das salas de aula em todo o mundo.

O nascimento da técnica

Ellen Kaplan conta que quando iniciou a sua carreira como professora de matemática descobriu que os seus colegas de profissão tinham o mesmo medo da disciplina que os alunos. “Se a matemática é tão importante, tão central nas nossas vidas e crucial para a imaginação porque tanta gente odeia? Se fosse poesia, música ou arte seria recebida com amor e entusiasmo nos quatro cantos do mundo”, questionava. Juntos, o casal compreendeu que o cerne da questão era a forma como essa ciência é ensinada em sala de aula. E assim passaram a trabalhar em uma abordagem que pudesse ser capaz de fazer com que as crianças gostassem de matemática.

“Se por um lado as crianças sofrem na escola por causa da matemática, elas brincam no tempo livre com jogos que envolvem números. Por que não pode ser diferente? Uma aula não poderia ser como um jantar entre amigos permeado por uma conversa agradável? Um aprendendo com o outro e todos se divertindo sem intimidação?”, defendia Robert Kaplan. Na abordagem The Math Circle o conceito principal é a exploração em um ambiente de grupo tendo como norte a expressão ‘Diga-me e eu esqueço. Pergunte-me e eu descubro.’ “O que nós criamos foi uma maneira de ensinar grupos pequenos, deixando que os alunos descubram seus próprios caminhos para chegar na solução de uma questão”, explicou Robert Kaplan.

Além de criarem essa abordagem altamente bem-sucedida para ensinar e tornar a matemática popular e interessante, o casal fundou a organização sem fins lucrativos, The Global Math Circle, que oferece encontros online para crianças a partir de 4 anos até a adolescência. No site do Math Circle, os autores explicam seu propósito: nós acreditamos que os tesouros da matemática estão ao alcance de todos. Graças ao trabalho de Robert e Ellen Kaplan a alegria da matemática está se espalhando pelo mundo.

O Círculo da Matemática no Brasil        

No Brasil, o Instituto TIM adaptou e aperfeiçoou à realidade brasileira a abordagem The Math Circle com o projeto “O Círculo da Matemática no Brasil”, que envolveu mais de 4,7 mil professores e 27 mil estudantes. O projeto, iniciado em 2013, envolveu escolas públicas de periferias de grandes cidades por meio de duas ações: a realização de sessões no contraturno escolar para turmas pequenas de estudantes do 2º ao 4º ano do Ensino Fundamental e a formação de professores do Ensino Fundamental, nas quais foram compartilhados técnicas e instrumentos utilizados no projeto e distribuídos materiais didáticos.

Em setembro de 2014, Robert e Ellen Kaplan estiveram no Brasil ministrando o curso de preparação dos educadores. “Deixe os alunos brincarem. Não afirme, pergunte. Se afirmar, eles esquecerão. Pergunte e eles descobrirão. Essa é a essência da abordagem que sugerimos. É uma abordagem e não um método. Deixe a aula fluir. Permita palpites errados porque eles libertam a mente. Permita conversas. Permita que um ajude e corrija o outro. É um esforço cooperativo que eleva a todos e a toda a sociedade para sair da ignorância e entrar na luz do conhecimento. Afirme, que esquecerei. Pergunte, que descobrirei”, ensinou o professor Kaplan na ocasião.


“Quando questionado sobre como gostaria de ser lembrado, Kaplan hesitou. ‘[No Teorema de Desargues,] você tem um ponto de vista, três … linhas e dois triângulos, vistos deste ponto de vista, portanto, eles são perspectiva deste ponto. E se eles são a perspectiva de um ponto, … então eles são a perspectiva de uma linha.” Ele se interrompe: “Na verdade, estou respondendo à sua pergunta, acredite ou não. Esse teorema (de Desargues) tem dez pontos: o ponto de vista, os três vértices do primeiro triângulo, os três vértices do segundo triângulo, … mais os três pontos onde os lados emparelhados se encontram. … Qualquer um desses dez pontos pode ser tomado como o ponto de vista, e toda a configuração se mantém novamente, etiquetada novamente. … Em outras palavras, cada self vê a mesma configuração, mas a rotula de maneira diferente. Eu sou um desses e você é outro. … Portanto, acho que só posso ser lembrado, ou apenas espero ser lembrado, desta forma – conforme me lembro dos outros – como outros seres.’.” Robert Kaplan (texto em homenagem ao professor publicado no site The Global Match Circle).